Serão saciados
Continuando
o estudo do texto do Papa Francisco sobre a santidade, “Gaudete et Exultate”
(Alegrai-vos e exultai), refletimos sobre as bem-aventuranças. Lemos: “Felizes
os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados” (Mt 5,6). “‘Fome e sede’ são experiências muito intensas, porque correspondem às
necessidades primárias e têm a ver com o instinto de sobrevivência” (GE 77). Se assim é, podemos entender que fome e sede de justiça correspondem
também às necessidades primárias da vida espiritual do ser humano. Não podemos pensar
só em uma justiça intimista que vê somente o lado espiritual. Isso não passa de
um subterfúgio para não se comprometer com as grandes causas do mundo. Não
podemos viver só de problemas sociais. Mas uma espiritualidade intimista e
egoísta deixa de ser espiritualidade. Maquiar os problemas das pessoas é um
farisaísmo que fere o coração amoroso de Deus por seus filhos sofredores. É com
todas as forças vitais que queremos buscar as soluções para os sofrimentos do
mundo, sobretudo para os enfraquecidos e abandonados. Eles têm em seu favor
somente o amor de Deus manifestado através das pessoas que têm fome e sede de
justiça. Isso não é política. Diz o Papa Francisco: “Há pessoas que, com essa
mesma intensidade, aspiram pela justiça e buscam-na com um desejo muito forte. Jesus
diz que serão saciadas porque a justiça, mais cedo ou mais tarde, chega e nós
podemos colaborar para tornar possível, embora nem sempre vejamos os resultados
deste compromisso” (GE 77).
Injustiça de cada dia
A justiça, que é um dos nomes de Deus,
é usada como suporte para tanta corrupção. É a política do aproveitar-se para
si, o que não se leva nada. Tudo é negociata. “E quantas pessoas sofrem por
causa das injustiças e quantos ficam assistindo, impotentes, como outros que se
revezam para repartir o bolo da vida. Alguns desistem de lutar pela verdadeira justiça
e, optam por subir para o carro do vencedor. Isto não tem nada a ver com a fome
e sede de justiça que Jesus louva ”(GE 78). A situação, ao menos nossa, estimula a
uma luta constante pela justiça, pois é uma vitória possível a quem queira,
desde que se assumam as exigências da humanidade que clama por justiça. Por que
um ser humano quer tanto e, para isso, comete tantos erros, quando outros não
têm como sair de suas tristes situações? Entre esses opressores estão tantos
que confessam que Jesus, o Justo, é o Salvador de todos. Por que uma Igreja que
confessa sua missão de ser a guardiã da justiça, é capaz de fechar os olhos a
tantos problemas e se volta para uma justiça somente espiritualizada que não
significa nada, pois o Deus Justo quer o bem de todos?
Procurar o que é justo
A verdadeira justiça abre os olhos e vê
em volta de si tantas misérias provocadas pelo ser humano. Continua o Papa
Francisco: “Esta justiça começa por se tornar realidade na vida de cada um,
sendo justo nas próprias decisões, e depois se manifesta na busca da justiça
para os pobres e vulneráveis” (GE 79). Nenhum projeto de Jesus é impossível.
Tudo é simples e começa com poucos gestos. As pequenas coisas são o caminho
para chegar às grandes mudanças. Começa com a busca da vontade de Deus com
fidelidade, como Ele é fiel nos mínimos detalhes do amor que nos tem. Assim
também estamos envolvidos com uma justiça não de palavras bonitas, mas de
gestos concretos: “Procurai o que é justo, socorrei os oprimidos, fazei justiça
aos órfãos, defendei as viúvas” (Is
1,17). “Buscar a justiça com fome
e sede: isso é santidade”.
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