Padre Luiz Carlos de Oliveira Redentorista |
“O
vinho novo das bodas”
Manifestou-se
sua glória
Muitas vezes ouvimos a narração
desse casamento em Caná que está dando o que falar há séculos! Nós nos fixamos no milagre da água
transformada em vinho. O estudo do tema é muito rico dentro da exegese bíblica,
mas a partir da liturgia, ele tem uma interpretação enriquecida. Estamos no
segundo domingo. Todo ano é lido um texto de João, mesmo que o evangelista do
ano comum seja outro. No Tempo do Natal celebramos a Manifestação do Senhor que
compreende as festas do Natal, da Epifania e do Batismo de Jesus. Aí termina o
Tempo do Natal. A Manifestação de Deus se faz em seu Filho Encarnado. Deus Se
manifestou e para isso assumiu a condição humana na qual podia ser ouvido,
visto e tocado para gerar comunhão (1Jo 1,1-13). Deus quis Se
comunicar. Ele Se manifestou aos pequeninos no Natal, aos Magos na Epifania e aos
judeus no Batismo. Em Caná Jesus manifestou sua glória aos discípulos (Jo
2,11).
Quando entramos no Tempo Comum, lembramos que a Manifestação continua. Jesus é
apresentado pelo Pai nas bodas e João Batista, como profeta, apresenta Jesus
aos discípulos, como vindo de Deus: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado
do mundo” (Jo 1,29). Ele é o Cordeiro da Páscoa
definitiva que tira o pecado. Celebramos o mistério da Encarnação que culmina
na Páscoa e na Glorificação. A Manifestação de Jesus é para gerar comunhão e
levar todos ao Pai. A unidade do Mistério aparece nas orações da Igreja na
Epifania: “Recordamos neste dia três mistérios: Hoje a estrela guia os Magos ao
Presépio. Hoje a água se faz vinho para as bodas. Hoje Cristo no Jordão é
batizado para salvar-nos” (Antifona das Vésperas).
Os discípulos creram Nele
A água transformada em vinho é o
sinal que realiza a transformação dos discípulos pelo ato de fé: “Este foi o
início dos sinais de Jesus... Ele o realizou em Caná e manifestou a sua glória,
e seus discípulos creram Nele” (Jo 2,11). O sinal, isto é, o milagre, fez da água um
vinho muito bom. Isso explica o que a fé realiza no coração daquele que crê. “Os
pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e
ouvido, conforme lhe fora dito” (Lc 2, 20). “Os Magos
voltaram por outro caminho para sua região” (Mt 2,12). “Jesus, pleno
do Espírito Santo, voltou do Jordão. Era conduzido pelo Espírito através do
deserto” (Lc 4,1). “Os discípulos creram Nele” (Jo
2,11).
A Manifestação sempre provoca uma resposta de fé. Esse é o verdadeiro milagre.
O outro foi grandioso, mas acolher Jesus é o grande milagre da fé. Esse é o
vinho novo que o Pai nos oferece. Assim se celebra o casamento da humanidade
com Deus. O casamento entre marido e mulher é imagem desse matrimônio de
unidade com Deus. Por isso que Paulo diz: “Grande é esse mistério: eu o digo em
relação a Cristo e à Igreja” (Ef 5,32). A Encarnação leva
a crer e viver como se crê.
Fazei o que Ele vos disser
Percebemos que crer exige sempre
uma decisão de vida por uma mudança. Acolher a Manifestação é fazer usar os
dons que Deus deu a cada um a serviço da comunhão de todos, como lemos na
primeira carta aos Coríntios: “A cada um é dada a manifestação do Espírito em
vista do bem comum” (1Cor 12,7). Cada um tem um
dom que deve ser manifestado, acolhido, aproveitado e desenvolvido. “Há
diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito” (4). “Todas estas coisas
as realiza o mesmo Espírito que distribui a cada um conforme quer” (11). O que fazemos
é seguirmos a palavra que Jesus nos diz, e nos transformemos em um vinho sempre
novo.
Leituras: Isaias 62,1-5; Salmo 95; 1 Coríntios
12,4-11; João 2,1-11
Ficha
nº 1824 - Homilia do 2º Domingo Comum (20.01.19)
1. Em Caná
continuamos a celebração da Manifestação do Senhor.
2.
A água transformada em vinho significa a mudança que a fé realiza no discípulo.
3.
Crer significa também mudar e usar os dons para a comunhão de todos.
De
copo cheio
Esse casamentinho de Caná, para o qual não
fomos convidados, é uma festa que não se acaba. E nem falta o vinho. Os
convidados não vão embora. E ninguém reclama.
Quando
refletimos esse texto achamos o milagre uma maravilha. Mas ele não é só um
espetáculo, mas é uma revelação de Deus e uma resposta nossa. Não estamos
bêbados, mas estamos cheios do vinho novo que é Jesus.
Esse
milagre que acontece conosco é um momento importante para tomar as decisões de
viver para o projeto de Deus que é comunhão. Pode ficar bêbado desse vinho que
não faz mal.
O
Evangelho não pode ser assumido pela metade. É o que Jesus fala do vinho novo e
o vinho velho. O novo em odre velho rompe o odre e perde-se o vinho (Mt
9,14-17).
Vinho
velho não faz bem. Pior é que a gente acha ainda que é o melhor. Assumir o
Evangelho de Jesus e querer viver do jeito do Antigo Testamento, estraga um e
outro.
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