Pe. Luiz Carlos de Oliveira Redentorista |
“REMOS E CRUZ”
Teu Rei vem a ti
A
grande viagem da vida de Jesus começou em Belém, passou por Nazaré, Galiléia e
agora, passando por Betfagé, indo ao Monte das Oliveiras. Pelos profetas
sabemos que o Senhor virá por aí no seu terrível dia
(Zc 14,4).
Ali acontece sua subida aos Céus. A entrada de Jesus na cidade lembra os
projetos de Deus sobre o mundo: “Dizei à filha de Sião (Jerusalém): Eis que o
teu rei vem a ti, manso e montando num jumento” (Mt
21,5).
Rei manso que vai destruir as armas e reunir o povo na paz. A expressão filha
de Sião indica a esposa, a futura mãe de muitos filhos, esposa do rei, esposa
gloriosa, esposa bendita e feliz. O rei vem pessoalmente. Ele será seu numa
aliança nupcial fiel e divina. É o Grande Rei (Sl
47,3)
que vem de seu trono celeste para tomar posse de sua cidade (Tomás
Frederici).
“Não é um rei terrível com armas, mas o maravilho rei pacífico que destrói
todos os projetos de guerra”. A jumenta é mansa e está amamentando um
jumentinho que acompanha a mãe na entrada solene. É um rei manso e humilde de
coração. Os discípulos estendem suas vestes e os ramos para que ele passe. É
aclamado como Rei Messiânico. A aclamação tem a conotação de Divindade – Aquele
que vem. É nome Divino. Encontra-se presente nesse momento a aclamação do salmo
23,7 “Levantai, portas, vossos frontões, elevai-vos antigos portais, para que
entre o Rei da Glória”. A entrada de Jesus em Jerusalém não pode ficar só num fato
festoso, mas penetrar todo o mistério do Deus que vem tomar posse de sua cidade
para constituir um novo Reino.
Fez-se
escravo
Após a festa da entrada, a
liturgia assume o caráter de séria tristeza. É uma compenetração do mistério
sob o prisma da dor da qual participamos pelos nossos sentimentos e atitudes
durante a celebração. A leitura da “Paixão” nos leva a buscar os porquês de um
momento tão doloroso. Mas é preciso reter firme que o Crucificado é o mesmo
Ressuscitado. A Paixão e Morte fazem parte da vida do Messias de Deus. “Ele
esvaziou-se a Si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se obediente
até à morte e morte de cruz” (Fl 2,7-8). A condição de
escravo é a condição de todo homem que se deixa escravizar pelo mal. O
sofrimento de Jesus não é somente dor física, mas dor espiritual. Sente-se tão
unido ao homem que se coloca na condição de separação do Pai que “O abandona”.
A primeira morte de Jesus vem em sua condição espiritual que será completada
pela sua condição sofredora de homem frágil que assumiu o pecado da humanidade.
“Aquele que não conhecera pecado, Deus o fez pecado por causa de nós, a fim de
que, por Ele, nos tornemos justiça de Deus” (2Cor 5,21). Tornar-se
pecado pode ser entendido como ser solidário com o gênero humano. O termo
pecado significa também ser sacrifício e vítima pelo pecado (Biblia
de Jerusalém).
Temos que ir além da dor física.
Não sairei humilhado
O profeta Isaías, no canto do
servo sofredor, proclama a certeza que Jesus carrega todo seu sofrimento:
“Conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não serei humilhado” (Is
50,7).
Mesmo clamando “Meu Deus, por que me abandonastes” (Sl
21 –Mt 27,46),
Jesus mantém a certeza na presença do Pai que O acolhe sempre, arranca um
grande brado e entrega sua alma a Deus. Somente o Filho de Deus pode chegar
inteiro a esse momento. Ele leva consigo
a humanidade que não perde sua esperança. É a semente da Páscoa que germina no
Filho e em todos. O mundo não pode apagar essa chama.
Leituras Mateus 21,1-12;Isaias 50,4-7; Salmo 21;
Filipenses 2,6-11; Mateus, 27,11-54
Ficha
nº 1950 - Homilia do Domingo de Ramos (05.04.20)
1. A entrada de Jesus em Jerusalém não é
só festa, mas vem tomar posse de sua cidade.
2. A leitura da “Paixão” nos leva a
buscar os porquês de um momento tão doloroso.
3. Jesus mantém a certeza na presença do
Pai que O acolhe sempre.
Era
mesmo?
O final do Evangelho de Mateus
traz a declaração de fé do oficial que comandara a crucifixão de Jesus: “Ele
era mesmo Filho de Deus”. A fé se abre a partir do mal que fizera. Ele cumpria
ordens, mas Jesus realizava sua missão. Quem não tinha a fé poderia dizer: “Ele
era filho de Deus?”... Tanto que diziam: “Se tu és o Filho de Deus, desce da
cruz” (Mt 27,40). É a conversa que o demônio usara nas
tentações de Jesus no deserto.
Nós
podemos ficar com essa dúvida quando vemos as muitas situações que passamos: Se
é tão Divino, porque não interfere em nossa vida. Ele pode responder: fui tão Divino
que tive a ousadia de ser humano e passar pelo que passei. Podemos, com Jesus,assim
passar por nossos problemas sem perder a direção de Deus
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