domingo, 5 de abril de 2020

Refletindo a Palavra - Padre Luiz Carlos

Pe. Luiz Carlos de Oliveira
Redentorista

REMOS E CRUZ

Teu Rei vem a ti
                       A grande viagem da vida de Jesus começou em Belém, passou por Nazaré, Galiléia e agora, passando por Betfagé, indo ao Monte das Oliveiras. Pelos profetas sabemos que o Senhor virá por aí no seu terrível dia (Zc 14,4). Ali acontece sua subida aos Céus. A entrada de Jesus na cidade lembra os projetos de Deus sobre o mundo: “Dizei à filha de Sião (Jerusalém): Eis que o teu rei vem a ti, manso e montando num jumento” (Mt 21,5). Rei manso que vai destruir as armas e reunir o povo na paz. A expressão filha de Sião indica a esposa, a futura mãe de muitos filhos, esposa do rei, esposa gloriosa, esposa bendita e feliz. O rei vem pessoalmente. Ele será seu numa aliança nupcial fiel e divina. É o Grande Rei (Sl 47,3) que vem de seu trono celeste para tomar posse de sua cidade (Tomás Frederici). “Não é um rei terrível com armas, mas o maravilho rei pacífico que destrói todos os projetos de guerra”. A jumenta é mansa e está amamentando um jumentinho que acompanha a mãe na entrada solene. É um rei manso e humilde de coração. Os discípulos estendem suas vestes e os ramos para que ele passe. É aclamado como Rei Messiânico. A aclamação tem a conotação de Divindade – Aquele que vem. É nome Divino. Encontra-se presente nesse momento a aclamação do salmo 23,7 “Levantai, portas, vossos frontões, elevai-vos antigos portais, para que entre o Rei da Glória”. A entrada de Jesus em Jerusalém não pode ficar só num fato festoso, mas penetrar todo o mistério do Deus que vem tomar posse de sua cidade para constituir um novo Reino.
                                                             Fez-se escravo
           Após a festa da entrada, a liturgia assume o caráter de séria tristeza. É uma compenetração do mistério sob o prisma da dor da qual participamos pelos nossos sentimentos e atitudes durante a celebração. A leitura da “Paixão” nos leva a buscar os porquês de um momento tão doloroso. Mas é preciso reter firme que o Crucificado é o mesmo Ressuscitado. A Paixão e Morte fazem parte da vida do Messias de Deus. “Ele esvaziou-se a Si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Fl 2,7-8). A condição de escravo é a condição de todo homem que se deixa escravizar pelo mal. O sofrimento de Jesus não é somente dor física, mas dor espiritual. Sente-se tão unido ao homem que se coloca na condição de separação do Pai que “O abandona”. A primeira morte de Jesus vem em sua condição espiritual que será completada pela sua condição sofredora de homem frágil que assumiu o pecado da humanidade. “Aquele que não conhecera pecado, Deus o fez pecado por causa de nós, a fim de que, por Ele, nos tornemos justiça de Deus” (2Cor 5,21). Tornar-se pecado pode ser entendido como ser solidário com o gênero humano. O termo pecado significa também ser sacrifício e vítima pelo pecado (Biblia de Jerusalém). Temos que ir além da dor física.
Não sairei humilhado
           O profeta Isaías, no canto do servo sofredor, proclama a certeza que Jesus carrega todo seu sofrimento: “Conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não serei humilhado” (Is 50,7). Mesmo clamando “Meu Deus, por que me abandonastes” (Sl 21 –Mt 27,46), Jesus mantém a certeza na presença do Pai que O acolhe sempre, arranca um grande brado e entrega sua alma a Deus. Somente o Filho de Deus pode chegar inteiro a esse momento.  Ele leva consigo a humanidade que não perde sua esperança. É a semente da Páscoa que germina no Filho e em todos. O mundo não pode apagar essa chama.  
Leituras Mateus 21,1-12;Isaias 50,4-7; Salmo 21; Filipenses 2,6-11; Mateus, 27,11-54
Ficha nº 1950 - Homilia do Domingo de Ramos (05.04.20)

1. A entrada de Jesus em Jerusalém não é só festa, mas vem tomar posse de sua cidade.
2. A leitura da “Paixão” nos leva a buscar os porquês de um momento tão doloroso.
3. Jesus mantém a certeza na presença do Pai que O acolhe sempre.

Era mesmo?

           O final do Evangelho de Mateus traz a declaração de fé do oficial que comandara a crucifixão de Jesus: “Ele era mesmo Filho de Deus”. A fé se abre a partir do mal que fizera. Ele cumpria ordens, mas Jesus realizava sua missão. Quem não tinha a fé poderia dizer: “Ele era filho de Deus?”... Tanto que diziam: “Se tu és o Filho de Deus, desce da cruz” (Mt 27,40). É a conversa que o demônio usara nas tentações de Jesus no deserto.
           Nós podemos ficar com essa dúvida quando vemos as muitas situações que passamos: Se é tão Divino, porque não interfere em nossa vida. Ele pode responder: fui tão Divino que tive a ousadia de ser humano e passar pelo que passei. Podemos, com Jesus,assim passar por nossos problemas sem perder a direção de Deus

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