Padre Luiz Carlos de Oliveira
Missionário Redentorista
“Sede
de Deus”
Ganhar
o mundo inteiro
Os
evangelhos, na liturgia dos domingos, nos têm levado a uma reflexão sempre mais
profunda do mistério de Cristo em nós. A primeira leitura nos orienta para o
tema. Jesus diz claramente como seguí-Lo: “Se alguém quer me seguir, renuncie a
si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16,24). O que vai faz
levar uma pessoa a deixar tudo para seguir Jesus? É a vontade decidida de segui-Lo.
Ele não impõe nada aos que o seguem. Mas indica o caminho. Sem isso não haverá
a participação em sua paixão, nem em sua ressurreição. Sem essa passagem do
cristão para o seguimento não haverá a identificação com Cristo. A fé fica sem
sentido. Crer não é uma palavra ou um pensamento vazio. Crer é a aceitação de
Jesus, a aceitação de seu Evangelho e a disposição de segui-Lo assumindo a cruz,
porque dizer amém,eu aceito, supõe compromisso. Com essa atitude existe uma
perda da vida e um ganho dessa vida em sua dimensão completa. Nada podemos dar
em troca de nossa vida, mesmo ganhando o mundo inteiro. Contemplamos o vazio da
riqueza, do poder e do prazer que Jesus venceu pela Palavra, pela humildade e
pela adoração do Pai. Pedro, não entendendo o anúncio de Jesus sobre sua paixão
em Jerusalém, começou a admoestá-Lo, tentando bloquear seu caminho. Jesus usa
de uma palavra dura: “Vai para longe, Satanás! Tu és para mim uma pedra de
tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens” (Mt
16,23).
Quem não pensa como Jesus é um Satanás, aquele que divide. Quando não O
seguimos servimos o reino de Satanás. Esse reino tem muito vigor.
Fogo
nos ossos
O profeta Jeremias, estava
desanimado de sua missão de só anunciar desgraças. Queria largar tudo. Passamos
por isso. Mas ele já tinha sido seduzido totalmente para o lado de Deus no
cumprimento de longa missão de profeta. Confessa: “Senti, então, dentro de mim
um fogo ardente a penetrar-me o corpo todo; desfaleci sem forças para suportar”.
Quando Deus nos conquista, não damos conta de abandonar a carreira. Jesus
passou por essa tentação, mas venceu deixando que a vontade do Pai O dominasse.
É o que rezamos no salmo 62: “Sois vós, ó Senhor, o meu Deus! Desde a aurora
ansioso eu vos busco”! A minha alma tem sede de vós e minha carne também vos
deseja como terra sedenta e sem água” (Sl 62). A comparação
da terra sedenta e sem água precisa nos leva a olhar os rios secos em que o
lodo se racha, como que clamando por água. Infelizmente preferimos uma vida
cristã sem Deus. Ficamos fechados a todo atrativo que possa ter sobre nós.
Temos muita vida religiosa, de muita agitação, mas sem Deus como Senhor de
nossas vidas. E pior quando levamos vida dupla. Pobre do povo que recebe um
alimento estragado.
Sacrifício
agradável
O
cristão segue Cristo em seu sacrifício. Mas seu sacrifício é espiritual. Tem os
mesmos sentimentos de Jesus ao seguir o caminho para a morte, fazendo a vontade
do Pai, como fez. Paulo diz aos Romanos: “Eu vos exorto a vos oferecerdes em
sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rm 12,1). Essa abertura
para Deus é o sacrifício espiritual que realiza a transformação em nossa vida,
não nos conformando ao mundo, mudando nosso modo de pensar e julgar. Assim
podemos discernir a vontade de Deus. É preciso perder a vida para tê-la em
nossas mãos. Jesus não quer nem resto, nem meias medidas. Nosso ministério
cristão perde seu vigor porque não tomamos decisão por Cristo. É uma caminhada
que dura toda a vida. Nada que fazemos por Ele está perdido.
Leituras: Jeremias 2,20,7-9; Salmo 62;Romanos
12,1-2;Mateus 16,21-27
Ficha
nº 1992 - Homilia do 22º Domingo Comum (30.08.20)
1. Crer é a aceitação de uma
pessoa concreta, Jesus.
2. Quando Deus nos conquista, não
damos conta de abandonar a carreira.
3. É preciso perder a vida para
tê-la. Jesus não quer nem resto, nem meias medidas.
Xô, Satanás!
De vez em quando, penso, Jesus
tem vontade de se virar para nós e repetir a dose de S. Pedro e nos colocar em
nosso lugar. A gente apronta demais com Ele. Tanta coisa boa nos fez; faz e
fará e nós vamos sempre atravessando sua estrada com nossa mentalidade pouco
cristã. Sinto em mim mesmo como atravanco o progresso do Reino de Deus.
Para
nós valem muito mais quinquilharias religiosas às quais damos muito valor e não
o Evangelho de Jesus, não o que nós inventamos. Precisamos levar umas boas de
quando em quando para centrarmos a vida em Jesus.
O
bom mesmo é a disposição de vida que temos para poder dizer como o profeta
Jeremias: Ele está dentro de mim como um fogo que me consome meus ossos. Faz
falta essa maneira tão grande de viver.
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