Deus
na tempestade
Na temática desse domingo, o
Evangelho e o Livro dos Reis se completam. No meio da tempestade os discípulos
acham que Jesus é um fantasma. Elias entra em diálogo com Deus somente quando
se faz uma “leve brisa”. São situações e visões diferentes. Aqui se coloca para
nós a impressão de desencontro: Deus está na tempestade ou na serenidade?
Sempre ouvimos que temos que nos retirar para rezar, pensar e definir a vida no
sossego. Os discípulos viram Jesus no meio do temporal. Elias na serenidade.
Jesus estava tranquilo, andando sobre as águas. Ele fizera o grande milagre da
multiplicação. Havia entre o povo o alvoroço de querer fazê-Lo Rei. Não fez
milagre com esse fim. Jesus se retira ao monte para orar a sós. Parece que quer
anestesiar a perturbação interior que lhe causara o povo. Os discípulos
estavam, pelas dez da noite, lutando para controlar o barco agitado pelas ondas
provocadas pelos ventos contrários. Diz-se que as tempestades de um lago
fechado podem ser mais perigosas que no mar. O Mar da Galiléia ainda hoje tem
esse perigo. Elias pega situações difíceis de vento, terremoto e fogo quando se
prepara para ao encontro com Deus que se manifesta “no murmúrio da brisa leve” (1Rs
19,11-12).
Os discípulos se apavoram vendo Jesus caminhando sobre as ondas. Os ventos
fortes apavoram Pedro que teme e pede socorro. Jesus, ao subir no barco, tudo
serenou. Deus está acima do dilúvio. Percebemos que nossos encontros com Deus
sempre se fazem em meio a temporais. Mas no olho do furacão há um lugar de
brisa leve. É o segredo da experiência de Deus. Quanto nos falta!
Deus
do silêncio
Tenho medo do falso silêncio e
repouso, fora da realidade do mundo. É nele que vamos encontrar Deus. No meio
do caos é preciso o coração. Deus não se contrapõe ao barulho, à balbúrdia.
Está acima. Como vemos, Jesus está sempre no meio do povo. É ali que exerce sua
compaixão. São Lucas testemunha os contínuos momentos de oração de Jesus.
Sabemos que sempre se retirava a sós, passava a noite em oração, levantava-se
cedo para orar. Dá uma lição bonita, pois, como Deus – Homem sentia necessidade
de estar com o Pai. É por isso que consegue ter o silêncio interior que o anima
em seu ministério. A história de Elias que fugira de Jesabel e vivera escondido
no deserto, é chamado para o encontro com Deus no Sinai (Horeb), como
acontecera com Moisés. É um tempo longo de experiência que passa por momentos
de vento, fogo e terremoto. Tudo poderia impedir esse encontro com Deus. Ele
está lá, como que rezando o salmo 84: “Quero ouvir o que o Senhor irá falar: é
a paz que Ele vai anunciar. Está perto a salvação dos que o temem, e a glória
habitará nossa terra” (Sl. 84). O que faz
Elias encontrar a brisa suave é sua permanente abertura para Deus. A criação se
amaina. Temos aí a soberania de Deus sobre a natureza em favor dos homens. O
profeta zela por Deus.
Quero
ouvir
Os
discípulos, diante de mais um milagre fazem uma profunda profissão de fé.
prostraram-se diante de Jesus dizendo: “Verdadeiramente Tu é o Filho de Deus” (Mt
14,23).
Essa profissão de fé é o resultado da experiência da tempestade e da calma
milagrosa. A fé e a experiência de Deus em Jesus levaram ao reconhecimento de
Jesus como Filho de Deus. Daí para frente se formam cada vez mais para
assumirem sua parte na missão. No meio da tempestade das perseguições eles
podem testemunhar com vigor. Quem sabe falte a experiência. Vivendo no meio das
tempestades, formando o coração, nós conseguiremos.
Leituras :1Reis 19,9ª.11-13;Salmo 84; Romanos 9,1-5;
Mateus 14,22-33.
Ficha
nº 1986 - Homilia do 19º Domingo Comum (09.08.20)
1. Nossos encontros com Deus sempre se
fazem em meio a temporais.
2. Jesus, como Deus – Homem sentia
necessidade de estar com o Pai.
3. A profissão de fé é o resultado da
experiência da tempestade e da calma milagrosa.
Deus do barulho
Pensamos a vida de Jesus como uma
brisa serena e um tempo de paz. Mas foi tudo uma bela confusão... aliás, ainda
temos muito disso. O ser humano não é um lago sereno. É um contínuo furacão.
Não é problema. Vemos os santos: viveram sempre em meio a tantas coisas. O
santo não fica a toa. Quando não tem o que fazer, inventa. São como Jesus: era
capaz de viver para os outros porque vivia para o Pai. É uma escola.
Deus
nos põe no barulho porque sabe que o sossego está Nêle. Ali é a água que sai
silenciosa da terra. Tenho medo de um barulho que parece não ter conserto: aquele
que está dentro de mim.
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