Padre Luiz Carlos de Oliveira
Missionário Redentorista
“O Reino vos será tirado”
O Senhor plantou uma vinha
Como vamos viver
nessa situação, até angustiante, diante dessa parábola? Achamos que o Evangelho
serve bem para os outros. Nós mesmos tomamos as atitudes dos chefes do povo,
dizendo que isso não é para nós. Essa parábola resume a história do povo de
Deus, a vinha predileta do Senhor. Durante toda a história de Israel, a vinha
foi um sinônimo de povo de Deus que produz frutos. Rezamos no salmo: “A vinha
do Senhor é a casa de Israel”. Povos foram desalojados para dar lugar a seu
povo. Quando o povo sofria perseguição e destruição, o povo reclamava: “Por que
lhe destruístes a cerca?...Voltai-vos para nós...visitai a vossa vinha e
protegei-a” (Sl 79) . Entra também a súplica pela
conversão para que Deus retome sua vinha: “Nunca mais vos deixaremos... Dai-nos
vida, e louvaremos vosso nome... Se voltardes para nós seremos salvos!” (Sl
79).
Isaías proclama a beleza dessa vinha e o desencanto dos resultados. O profeta narra o carinho com que Deus cuidou
desse povo, como o homem que cuidou de sua vinha. A parábola de Jesus foi
perfeitamente compreendida pelos chefes do povo. Deus, mandou através da
história, muitos servos para buscar o fruto do povo. Eram os profetas. Todos
foram mortos. Por fim, mandou o Filho que teve a mesma sorte. Os chefes do povo
se fizeram donos da vinha e queriam os frutos para si. Matam até o Filho para
que tudo seja só deles. Essa atitude se
repete de tantas maneiras no povo de Deus, chamado Igreja. Parece um mal que
não tem cura. E tantos são os “servos” que são perseguidos dentro da própria
Igreja.
Jesus, pedra angular
Jesus é a vítima, mas também o
Senhor. Completando a série de seus crimes contra os profetas enviados por Deus, os
Sumos Sacerdotes e os anciãos do povo, rejeitam Jesus e O lançam fora da vinha.
Jesus foi morto fora das muralhas. O Reino que Deus lhes confiou pela aliança
só é realizado por Ele. Pela sua Ressurreição é agora a pedra angular que dá
sustentação ao novo povo, à nova vinha. Jesus, tendo assumido sua condição de
Senhor e Mestre, vai dar ao Pai o fruto que Lhe pertence. Como Filho, entrega ao
Pai o que produziu sua plantação. Igualmente podemos pensar e nos perguntar, se
a Igreja do momento, não faz a mesma obra dos vinhateiros sufocando o
crescimento das pessoas, e não as conduzindo ao Pai. Vemos igualmente aqui, o risco
de uma religião sem frutos. Parece muito a vinha que bem cuidada só produziu
uvas selvagens. Estamos levando o povo da herança que Deus nos confiou a nós ou
ao Pai? É necessário um grandíssimo despojamento dos que têm a responsabilidade
do povo: Sair de si, de seu mundo, de suas pretensões de poder e de suas
figuras deixando de lado os preferidos de Deus. Aquele que tem Cristo como sua
pedra angular será a base do mundo novo querido por Jesus.
Ocupai-vos com o verdadeiro
Paulo
nos oferece uma possibilidade e um modo de viver produzindo frutos para Deus. É
na simplicidade que está o vigor da vinha. A primeira orientação é não
preocupar-se com nada, confiando-se à vontade Divina. Recomenda-se uma vida de
oração. Nesse relacionamento cresce a paz de Deus que ultrapassa todo o
entendimento. Ela guardará os corações e os pensamentos em Jesus (Fl
4,6-7).
Vejamos como Paulo vê a comunidade Igreja: “Ocupai-vos com tudo que é
verdadeiro, respeitável, justo, puro amável, honroso, tudo que e virtude” (id
8).
O vigor e o fruto da vinha estão na vida simples do cristão que vive sua fé.
Assim os frutos amadurecerão na vida de cada um e serão entregues a Deus Pai.
Leituras Isaias 5,1-7; Salmo 79;
Filipenses 4,6-9; Mateus 21,33-43
Ficha nº 2002 - Homilia do 27º Domingo Comum (04.10.20)
1. Nós mesmos tomamos as atitudes dos
chefes do povo dizendo que isso não é para nós.
2. Pela Ressurreição é agora a pedra
angular que dá sustentação à nova vinha.
3. O vigor e o fruto da vinha estão na
vida simples do cristão que vive sua fé.
Perdemos a roça
Nós somos práticos
em aplicar a bíblia aos outros e esquecemos que podemos estar incluídos nessa
acusação de Jesus: “O Reino vos será tirado e entregue a um povo que produzirá
frutos” (Mt 21,43). Dizemos que os crentes crescem
por todos os lados e que em cada garagem há uma igreja. Há outras razões. Mas o
que fazemos por nossa fé. Países inteiros que eram católicos ficaram ateus.
Pergunto: como eram os bispos, os cardeais, os padres, os leigos dessas
comunidades?
Quem
é que vai às periferias e se gasta pelos necessitados? Como os padres, as
paróquias recebem os pobres? As donas e donos do pedaço não abrem espaço.
Pensamos só em nós, em nossos esquemas, em nossas tradições e não somos capazes
de reformar. Ai de quem muda uma cadeira do lugar. O Brasil está entrando por
esse caminho de ateísmo. As classes populares, depois dessa onda crente vai
ficar atéia...Que fazemos?
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