Padre Luiz Carlos de Oliveira
Missionário Redentorista
Evangelização popular
Missão de
todos
Sempre me impressiona
a capacidade do povo ao conduzir sua vida cristã e evangelizar com suas
condições. A Igreja pode até não conseguir fazer uma evangelização conveniente.
Deus não o abandona. O Espírito Santo suscita sempre meios maravilhosos. Ele
está presente. As comunidades populares realizam algo impressionante que é
colocar a Palavra de Deus em seus corações. Por isso sabem educar os filhos,
têm coerência de vida, são capazes de construir uma família e viver comunidade
praticando a fraternidade. O amor os anima. Por isso encontramos tanta gente
santa em seu meio. É preciso acolher essa ação do Espírito entre eles. Estejamos
atentos, pois quem despreza os pobres ofende seu Criador (Prov
17,5).
O Espírito os evangeliza. E eles podem
realizar o mesmo que fez a comunidade primitiva de Atos 2,42: “Eles eram
assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e
às orações”. O povo fiel e simples, puro de coração, vive a Palavra de Deus em
sua vida e, com sua “tradução de coração”, ensina o bom caminho aos filhos e
conduz a vida da comunidade. O Espírito Santo ensina-os diretamente. É
impressionante que sabem coisas que não aprenderam. São solidários e estão
sempre presentes uns à vida dos outros. Lembramos os mutirões que eram feitos
para se ajudarem. Sabem partilhar. Reúnem-se para os acontecimentos familiares.
Participam das alegrias e gostam de rezar juntos. Vivi pouco essas realidades,
mas pude ver.
É uma Igreja
viva
Temos a
experiência dos antigos que recebiam a visita dos padres uma vez por ano para
as desobrigas. Vi na África, Angola, a resistência das comunidades durante os longos
anos de guerra. As aldeias tinham seus líderes, os catequistas. Eram homens de
grandíssima dignidade, às vezes, vestidos de farrapos. Eles conduziam a
comunidade e faziam as celebrações. Nós podemos ver como nosso povo simples
sabe, é adulto na fé, seguro na vivência do Evangelho e criativo no modo de
colocar em ação sua fé. As belas tradições sustentaram sua união à Igreja de
Cristo. O método era muito claro. Por exemplo: a festa de Reis, do Divino e
outras: uma família acolhia a festa, organizava a Folia de Reis que ia de casa
em casa cantando. Anunciavam a festa e, em sua cantoria, davam a catequese
sobre o que se iria celebrar, por exemplo, o Natal. Levavam a Palavra de Deus
por todas casas. Lembro-me de minha avó, ajoelhada na soleira da porta, acolhendo
a bandeira de Reis da mão dos foliões. Depois se celebrava a festa com a reza
de um terço e viviam a fraternidade na qual todos ajudavam. Marcou-me uma palavra
de minha tia: “Eu chego à festa e já pego o avental”. Era tudo comum na alegria do serviço.
Escola para a
Igreja
Certamente estamos seguros dos
ensinamentos da Igreja, da renovação da liturgia e das reformas das devoções.
Como realizar tudo isso? É preciso conhecer a alma do povo que é a mestra de
toda a renovação e purificar o que possa ser danoso. Mas não se pode impor um
rito, como se fez por séculos. Só se vai ao povo se partirmos dele. Há
comunidades que perderam tudo que era popular e não receberam a formação para o
novo. Destruir é fácil. Recompor é impossível. Pior ainda é jogar sobre o povo
esquemas que não educam. Se formos estranhos aos lugares, maior cuidado devemos
ter. É preciso renovar nosso modo de formar o povo em seu caminho.
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