Padre Valdo
Pároco da Paroquia Santo Antônio de Junqueirópolis
O NATAL DE MOGO
"... E o verbo se fez carne e habitou entre
nós..." Jo 1,14
Era uma vez um homem chamado Mogo,
que costumava olhar o Natal como uma festa sem o menor sentido.
Segundo ele, a noite de 24 de
dezembro era a mais triste do ano, porque várias pessoas se davam conta de quão
solitárias eram, ou da pessoa querida que havia morrido naquele ano.
Mogo era um homem bom. Tinha uma
família, procurava ajudar o próximo, e era honesto nos seus negócios. Entretanto,
não podia admitir que as pessoas fossem tão ingênuas a ponto de acreditar que
um Deus havia descido à Terra só para consolar os homens.
Sendo uma pessoa de princípios, não
tinha medo de dizer a todos que o Natal, além de ser mais triste que alegre,
também estava baseado numa história irreal: um Deus que havia se transformado
em homem.
Como sempre, na véspera da
celebração do nascimento de Cristo, sua esposa e seus filhos se prepararam para
ir à Igreja. E Mogo resolveu deixá-los ir sozinhos, dizendo:
- Seria hipócrita de minha parte
acompanhá-los. Estarei aqui esperando a volta de vocês.
Quando a família saiu, Mogo
sentou-se em sua cadeira preferida, acendeu a lareira, e começou a ler os
jornais naquele dia. Entretanto, logo foi distraído por um barulho na sua
janela, seguido de outro, e mais outro.
Achando que era alguém jogando bolas
de neve, Mogo pegou seu casaco e saiu, na esperança de dar um susto no intruso.
Assim que abriu a porta, notou um
bando de pássaros, que haviam perdido seu rumo por causa de uma tempestade, e
agora tremiam na neve.
Como tinham notado a casa aquecida,
haviam procurado entrar. Mas ao se chocarem contra o vidro, machucaram suas
asas, e só poderiam voar de novo quando elas estivessem curadas.
- Não posso deixar estas criaturas aí
fora, pensou Mogo. Como ajudá-las?
Foi até a porta de sua garagem,
abriu-a, e acendeu a luz. Os pássaros, porém, não se moveram.
- Eles estão com medo, pensou Mogo.
Tornou a entrar em casa, pegou miolo
de pão, e fez uma trilha até a garagem aquecida. Mas a estratégia não deu
resultado.
Mogo abriu os braços, tentou
conduzi-los com gritos carinhosos, empurrou delicadamente um e outro, mas os
pássaros ficaram mais nervosos ainda, começaram a se debater, andando sem
direção pela neve, e gastando inutilmente o pouco de força que ainda possuíam.
Mogo já não sabia mais o que fazer.
- Vocês devem estar me achando uma
criatura aterradora- disse, em voz alta. Será que não entendem que podem
confiar em mim?
Desesperado, gritou:
- Se eu tivesse, neste momento, uma
chance de me transformar em pássaro só por alguns minutos, vocês veriam que eu
estou realmente querendo salvá-los!
Neste momento, o sino da igreja
tocou, anunciando a meia-noite. Um dos pássaros transformou-se em anjo, e
perguntou a Mogo:
- Agora você entende porque Deus
precisava transformar-se em homem?
Com os olhos cheios de lágrimas,
Mogo respondeu:
- Perdoai-me anjo. Agora eu
entendo... Só confiamos naqueles que se parecem conosco, e passam pelas mesmas
coisas que nós passamos.
Reflexão. Que essa bela história nos ajude a penetrar
no mistério natalino: o verbo encarnado, o Deus que armou sua tenda entre nós.
Tenha um feliz e abençoado Natal.
Pe. Valdo Bartolomeu de
Santana
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