Padre Luiz Carlos de Oliveira
Missionário Redentorista
Chovei das alturas
Encarnação continuada
A reforma litúrgica restaurou a
necessária lembrança da segunda volta de Cristo. Esta, agora, é mais importante
que a primeira, pois esta já cumpriu sua parte. Com isso, aquele aspecto de
Advento, imitação da Quaresma, ficou bem diluído. O mistério da Encarnação não
se reduz ao tempo de Natal, ao nascimento de Jesus e às celebrações que seguem.
E depois entra em silêncio até que se comece a sentir a falta desse tempo
gostoso cheio de ternura. A Encarnação envolve todo o mistério de Cristo e se
manifesta em todos seus aspectos. Deus quis Se comunicar para atrair a Si todo
o universo criado e todos os seres, de modo particular o homem e a mulher por
Ele criados. Deus está sempre Se comunicando e chamando à participação de sua
vida. É próprio do amor se difundir e atrair a si. Não podemos medir Deus pelo
nosso planetinha diminuto num universo “infinito”. Mas aconteceu que Se manifestou
em seu Filho Encarnado que vai ao extremo de seu ser humano na morte e
sepultura. Tudo o que é humano está presente em Cristo. Queremos mistificar
para não nos comprometer. Há muitos segmentos da sociedade e da Igreja que temem
ser humanos. Isso tira o compromisso com o outro, sobretudo aqueles que têm
diminuída sua condição humana. Esses são chamados de pobres e de abandonados. O
Filho também se identificou com eles. Ele não recusa os que possuem, mas quer
que produzam frutos de misericórdia. Mas sabemos que, quem ajuda os pobres são
os outros pobres.
Igreja que se encarna
A encarnação continua presente na
Igreja, tanto que, o maior ensinamento do Concílio é a encarnação da Igreja no
mundo atual. A Igreja do século X falava para aqueles homens do século X. Pe.
Vitor Coelho dizia que a Igreja não é de bronze, pois esse enferruja. Ela é uma
árvore que tem um tronco firme e ramos novos. Sem os ramos novos, ela não
cresce. Não crescendo pode morrer. É o que vemos em tantos países
desenvolvidos. Por isso, a Encarnação não se esgota no Natal. Continua
assumindo as condições humanas para chegar a todo homem. Tem que sair de si.
Podemos ver as escleroses espirituais que destroem todo o sentido do Evangelho.
O povo tem direito à beleza, mas tem outros direitos também. Direitos à pureza
do Evangelho. A evangelização que não vai ao homem concreto, no seu mundo, não
é continuação da Encarnação. Os sacramentos, a pastoral, as estruturas
eclesiais continuam Jesus Cristo em sua missão e vida. Não se trata só de uma
recordação, mas de uma atuação. É Cristo que continua. Uma das primeiras coisas
a fazer é ir às comunidades mais carentes. Jesus não nasceu na sala, mas num
lugar fora, onde estavam os animais e até outros forasteiros.
Por um Natal encarnado
Perdemos
o encanto do Natal. Quem sabe foi porque ficamos só no encanto. Era um tempo
lindo. Pode ser que a beleza sem conteúdo tenha murchado. O conteúdo do Natal é
Jesus que vem comunicar a presença real de Deus entre as pessoas. Minha cunhada
e família fazem o Natal de uma creche e dão os presentes e a festa. Meu irmão,
tendo ido ajudar na distribuição dos presentes, vendo a felicidades das
crianças, disse que era o primeiro Natal de sua vida. Estava mais feliz que as
crianças. Ao sairmos de nós mesmos, em direção aos necessitados repetimos o
gesto de Deus ao vir a nós, dando-nos como presente a Si mesmo em seu Filho. Aí
é Natal.
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