Culto, Dimensão
de Totalidade
O ser humano é espiritual
É próprio do homem, rezar. Ouvi,
há tempos, que quiseram provar que o ser humano não é naturalmente religioso. É
algo imposto. Então isolaram uma criança que não ouvisse falar nada de
religião, Deus... etc... para provar essa inverdade. Um dia encontraram a
criança ajoelhada em direção ao sol nascente que é uma bela imagem de Deus. O
ser humano é incompleto sem a dimensão religiosa. Se ele fosse só matéria,
seria diferente. Não sabemos a relação dos seres não humanos com Deus. Em sua
pureza, tem seu modo de reagir. Como não é só matéria, tem o relacionamento com
o Ser Superior. Deus fez o grande caminho para levar o homem e a mulher a
encontrarem a riqueza do ser espiritual no culto, de modo particular no culto
judaico, que praticou Jesus, e o culto em Cristo. Os tempos de Deus não são os
nossos. Esse culto foi cristalizado na Igreja que realiza essa dimensão em
plenitude, com tudo o que é necessário, enriquecido pela sabedoria dos povos.
Há sempre a necessidade de abrir a todos essa riqueza. Mais ainda, o que falta
muito é reconhecer a diferença e a complementaridade do feminino e do
masculino. É um dos aspectos mais esquecidos da dimensão espiritual e sua
concretização nas religiões e na fé cristã, por excelência. Deixando os outros
de lado, a estrutura da fé cristã é masculinizada. Vemos Jesus e a samaritana.
Os discípulos admiraram-se que estivesse conversando com uma mulher.
Ser de comunhão espiritual
Quanto mais o ser humano se
desenvolve, mais percebe que está junto com outros. O ser humano é social por
natureza. É dimensão fundamental. Essa dimensão se estabelece também no aspecto
religioso. O ser humano não é amontoado de peças úteis à vida. Ele é um todo em
que as partes e dimensões estão interligadas. Por isso, a vida espiritual é
realizada em comunhão. O slogan “salva tua alma”, é correto, mas
incompleto. “Sois corpo de Cristo e sois
os seus membros, cada um por sua parte (1Cor 12,27). Somos Corpo e a
imagem é clara, no ver de São Paulo, para mostrar a unidade e a diversidade.
Todos unidos entre si e com Cristo. Todos necessários uns aos outros. Essa
comunhão espiritual acontece também no culto. Não há individualismo no culto,
na liturgia cristã. Temos a tendência de ver os outros como unidades
desligadas. Estamos em profunda comunhão de vida e vida espiritual. Paulo até
cobra a solicitude uns pelos outros. Não haja divisão, “mas os membros tenham
igual solicitude uns pelos outros” (id 25). Solicitude até
mais espiritual pois, como humanos, temos essa separação natural do ser. Como
espiritual, a unidade é natural. Com Cristo fazemos parte uns dos outros. A
celebração não é individual, celebramos como corpo e Corpo de Cristo. Cristo
realiza a união com Ele. Cristo é tudo em todos.
Rezar com a Igreja
A Igreja é Corpo de Cristo e realiza
visivelmente o culto que o Filho, no Espírito, presta ao Pai. Esse culto no-lo
deu quando Se uniu à nossa humanidade. A parte visível do culto é a dimensão humana
unida à dimensão espiritual, divina de Cristo. Por isso temos o culto perfeito
e único, aquele que Cristo presta ao Pai. Na realidade não há diversidade de
cultos, mas um único culto. São completos na medida em que se aproximam de
Cristo. A liturgia da Igreja quer tornar visível esse culto espiritual através
de seus ritos. Quanto mais traduzem a verdade do culto, mais perfeito é. Por
isso, a liturgia deve corresponder também ao ser humano e não ser um depósito
de ritos vazios.
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