Padre Luiz Carlos de Oliveira
Missionário Redentorista
Era uma vez um Menino
Disse que era berço
Curiosamente, a
homilia do Natal não “cola”. Não se chega ao conteúdo de um texto que seja
interessante. A pregação parece que derrapa na quantidade dos temas. Somos como
crianças que olham numa vitrine de brinquedos. Quero todos e, às vezes, não
leva nenhum. É bonito o Natal, Ele encanta e basta! “Quando o mistério é muito
grande não se ousa desobedecer”. Não sabemos detalhes daquela viagem a Belém. A
cidade estava lotada. Ouvimos o evangelista escrever: “Não havia lugar para
eles na sala”. As casas tinham uma sala maior, mais bonita, onde se reunia a
família para quase tudo. Outros ambientes eram só funcionais, como a gruta que,
provavelmente era ou algo natural, ou escavado, onde se guardavam coisas como
cereais e os poucos animais. Só sobrou ali para eles. Pode ser que houvesse
mais gente. Ali... os humildes viajantes se recostaram e chegou a hora do
parto. Como foi, não é caso, mas precisava um lugar para por o Menino. Falamos
manjedoura, lugar do animal comer. Era cocho mesmo. Em meio a outros lugares, aquele
era o bom. Não era uma gruta fria, pois havia animais que transmitiam o calor.
O berço podia ser de ouro ou madeira. O que acolhe é o amor. Simples como eram,
o simples lhes era o suficiente. Ali...Meu Deus! Como podia ser assim? Séculos
de esperança se resolvem naquele coxo. Sem palavras... sem questões. Ali estava
Ele. O Esperado das nações. Quem sabe essa seja a melhor maneira de compreender
a realização das promessas. Quando um cocho vira berço, o coração pequeno vira
trono do Senhor que nasce.
Como o sol
Já imaginaram um Natal no escuro? O
que vemos é a quantidade de lampadinhas piscando para todo lado. Há muita luz
nessa noite. Os pastores dos campos de Belém estão guardando seus rebanhos. “O
anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor os envolveu com sua luz... Diz:
‘Eis que eu vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo’” (Lc
2,9-10).
O anúncio do nascimento se deu em grande luz. É aquela pequena chama que brilha
no interior de uma “gruta”. São Leão Magno, Papa (440-461), escreveu os
textos da liturgia da noite de Natal. Ele estava iluminado, pois colocou luz
abundante em todo o texto: “Ó Deus que fizestes resplandecer esta noite santa
com a claridade da verdadeira luz, concedei que, tendo vislumbrado na terra
este mistério, possamos gozar no céu de sua plenitude” (Oração). O profeta diz:
“O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas
sombras da morte, uma luz resplandeceu” (Is. 9,1). Luz unida à
alegria. Os anjos dizem: “Eis que vos anuncio uma grande alegria”. O profeta Isaias
comenta: “Fizestes crescer a alegria e aumentastes a felicidade” (id
2).
O sol que é luz, é símbolo da luz que é sol para o mundo. Aquele presépio abre
a felicidade.
Mordiscavam
Tanta luz num Pequenino envolto em
faixas e deitado num cocho. Certo que tudo era tão normal. Os pastores,
acolhendo o anúncio do Anjo, são os primeiros a ver o Menino. Os que não eram
vistos, veem por primeiro. S. Afonso, apaixonado pelo amor que ilumina o
presépio, diz que os pastores chegam tímidos e vão se aproximando para ver o
Menino. E Maria O dá para eles segurarem. Virou festa. Beijam, mordiscam suas
gordurinhas e O acariciam. É um Deus que não teme o calor humano. É o Deus que
nos faz falta na Igreja, nas comunidades... o calor humano que é o melhor modo
de manifestar o amor Divino. Fazemos um protesto: “Tiraram a carne de nosso
Deus”. Ele passou por tudo que é nosso. E por isso nos entende e ama de um jeito
gostoso.
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