Padre Luiz Carlos de Oliveira
Missionário Redentorista
“No Senhor, toda Graça”
Fonte do mal
Encerramos o Tempo Pascal e
retornamos ao Tempo Comum. Agora não celebramos um acontecimento da vida de
Cristo, e sim, o Cristo em seu mistério e o ser humano no mistério de
Cristo. O salmo mostra nossa realidade:
“De fundos abismos clamo a Vós, Senhor... No Senhor ponho minha esperança” (Sl
129).
Parece que hoje somos colocados diante do problema do Mal. Lemos no texto da
queda como o mal penetra no coração das pessoas e as leva à rejeição do bem que
é Jesus. O que é mais sagrado é pervertido até chegar à impossibilidade do
perdão. Somos convocados a refletir sobre o mal. Qual é sua origem? Ele não é
um concorrente de Deus, como um deus que destrói o homem. Deus não é o criador
do Mal. Como é que surgiu? Parece até que é anterior ao homem. Vem simbolizado
na serpente. É claro que isso tudo é uma linguagem para explicar um sentido aos
que viviam no tempo do autor sagrado. A narrativa tem o significado no seu
conteúdo e não na história. Não se trata de um fato de um tempo, mas de uma
realidade que nos persegue. O mal não é senhor do homem. Mas nos cerca. Estamos
entre o bem e o mal. Satanás, a serpente atrai. Qual a tentação? Ser igual a
Deus. Sendo o homem livre, esse mal está presente no homem. Deus disse a Caim:
“O pecado está àstua porta. Compete a você, dominá-lo” (Gn
4,7).
O mal existe, atrai e envolve, levando-nos à cegueira, como os doutores da lei.
Dizer que Deus provoca o mal é um pecado que não procura o perdão.
Olhar o invisível
Se por um lado há o mistério do
mal, por outro, temos o mistério da graça que é Jesus Cristo. Paulo nos ensina
que a fragilidade humana não é o fim: “Por isso não desanimemos. Mesmo se nosso
homem exterior se vai arruinando, o nosso homem interior, pelo contrário, vai
se renovando, dia a dia” (2Cor 4,16). O mal não é
senhor do homem e da mulher. Podemos escolher o mal. Mas podemos escolher o
bem. “Estamos com nossos olhares voltados para as coisas invisíveis e não para
as coisas visíveis. Pois o que é visível é passageiro, mas o que é invisível é
eterno” (2Cor,4,18-). A dimensão
frágil do ser humano, com grande tendência para o mal, tem na graça sua maior
força. Nela podemos recompor a vida e nos organizar para viver intensamente o
projeto de Deus. O que ocorreu com os doutores da lei, fariseus e outros, foi
se colocarem iguais a Deus no julgamento das pessoas com a luz do mal. Todos
esperavam um Messias, mas que fosse de acordo com seus modelos. Jesus se
manifesta com o propósito de tirar todo o poder de satanás que dominava os
corações a ponto das pessoas julgarem a Deus atribuindo os poderes de Jesus a
poderes do mal. Esse é o pecado contra o Espírito Santo (Mc
3,22).
Deus só faz o bem!
Tua mãe e teus
irmãos
No Evangelho de hoje aparece duas
vezes a família de Jesus. Jesus
apresenta sua família e a família ampliada como lugar de se viver bem no meio
da imensidão de males. A família que Deus criou deixou-se invadir pelo mal.
Jesus propõe novamente o projeto de Deus para vencer o mal vivendo a Palavra.
Nele podemos criar a nova família que vive o bem. Não exclui seu ser humano.
Propõe o novo modo de ser: “Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha
irmã e minha mãe” (Mc 3,35). A família é uma proposta de se
viver intensamente a vida nova. Ela se forma a partir da escolha que fazemos de
rejeitar o mal e procurar o bem que é Jesus, bondade de Deus.
Leituras: Gênesis 3,9-15; sal o 129; 2ª Cor
4,13-18.5,1; Marcos 3,20-35.
Ficha
nº 2072 - Homilia do 10º mal Domingo do Tempo Comum (06.06.21)
1. O mal não é um fato de um tempo, mas
uma realidade que nos persegue.
2. A fragilidade do ser humano, com a
tendência para o mal, tem na graça sua maior força.
3. Jesus propõe novamente o projeto de
Deus: Viver a Palavra.
Minhoquinha
do mal
Vemos que o mal vai penetrando a
realidade. Essa minhoquinha do mal não aduba a terra, mas a torna infrutífera.
O mal penetra tudo e tem muita força, exigindo que se lute com muita garra para
exterminá-lo. Temos essa esperança de acolher o bem e fazer tudo frutificar.
No
paraíso terrestre, Eva deixou-se enganar. Dentro dela já havia desejos
ambiciosos de meter o nariz aonde não tinha sido convidada. Pior é que, além de
fazer o mal, complica a vida dos outros. Aí começa o jogo do empurra-empurra. O
castigo não é algo de mal que Deus joga em nós, mas nas escolhas que fazemos e
não dão certo.
Das
coisas ruins podemos tirar coisas boas. Dos males que sofremos, podemos dar um
sentido novo à vida e a tudo que nos cerca.
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